Inspirado pelo Dia do Disco, Emicida nos indicou cinco LPs que acredita ser essenciais para quem ama música tanto quanto ele.
No último dia 20/04, foi comemorado o Dia do Disco, também conhecido como Dia do Disco de Vinil. E quem acompanha o presidente da Laboratório Fantasma conhece sua paixão pelos vinis, assunto sobre o qual o próprio não poupa comentários. Por isso, pensando na data comemorativa criada em homenagem ao sambista, compositor e intérprete Ataulfo Alves, pedimos ao Emicida cinco indicações de discos que as pessoas precisam ouvir e a resposta foi uma viagem de John Coltrane à Jorge Ben, com direito à passagens por Moacyr Santos, Os Tincoãs, Ciro Monteiro e Dilermando Pinheiro. Confira a lista abaixo.
Teleco Teco Opus Nº 1, de Cyro Monteiro e Dilermando Pinheiro
Ataulfo Alves, o grande homenageado desta semana, aparece nesta obra através da canção Ai Que Saudade da Amélia, composta por Mário Lago, mas que ganhou fama com a voz e melodia do cantor mineiro. Já este disco é o resultado da gravação de um show ao vivo idealizado pelo jornalista Sérgio Cabral, onde Cyro Monteiro e Dilermando Pinheiro subiram ao palco acompanhados por Jacob do Bandolim, Reginaldo Canhoto e Dino Sete Cordas para cantar composições de nomes lendários da história do samba, como Ismael Silva, Wilson Baptista, Dorival Caymmi, Lupicínio Rodrigues, Vinícius de Moraes e Noel Rosa. Cyro e Dilermando, diga-se de passagem, também foram grandes nomes do samba e da música popular brasileira à sua época. Por fim, o resultado de tantos encontros – temperados com bastante humor e malandragem – ganhou forma neste vinil, que se tornou referência para gravações de samba.
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Coisas (1965), de Moacir Santos
Eleito um dos 100 melhores discos brasileiros de todos os tempos segundo a revista Rolling Stones, Coisas, de Moacir Santos, também fez parte do universo de referências que inspirou o rapper de Zica, Vai Lá durante o processo de criação do álbum AmarElo (2019). Tudo começa a partir do nome do álbum, “Coisas”, que, não por coincidência, também é o nome de todas as suas faixas, apenas diferenciadas por seu ordenamento numérico (ex: Coisa Nº 4). O pernambucano brinca com a aura sagrada que envolve, em particular, o gênero de música instrumental e nomeia suas obras com um termo extremamente comum no vocabulário popularesco e ao qual todos têm acesso. Além disso, o maestro também trouxe uma nova experiência com relação à maneira como os ritmos oriundos das diásporas africanas eram trabalhados, misturando gêneros como o jazz e o samba de uma maneira única e bastante sensorial. De acordo com o que o próprio Emicida disse durante o segundo episódio do podcast AmarElo – O Filme Invisível, Coisas é um dos discos que ele mais ouviu em sua vida.
Seguimos para Hiroshima. eu passei meses ouvindo John coltrane e lendo sobre sua vida, me tocou profundamente os relatos de sua experiência no japão e de como ele quis sentir o silêncio de Hiroshima para transformar aquilo em música. pic.twitter.com/DhRkhVR5hh
— emicida (@emicida) October 30, 2019
A Love Supreme, de John Coltrane
Seguindo a linha dos melhores álbuns de todos os tempos, esse é um dos títulos dados ao A Love Supreme, de John Coltrane, pelo museu americano Rock and Roll Hall of Fame. Após viver uma rotina bastante intensa na estrada, enquanto tocava saxofone na banda do trompetista Miles Davis, relatos dão conta de que a vida pessoal de John Coltrane encontrava-se em frangalhos por causa do seu vício em drogas. Até que, após ser demitido da banda, a disciplina e a fé em Deus o resgataram. Coltrane se recuperou do vício em drogas e iniciou sua carreira solo. Essa foi a principal motivação para a criação desta obra: agradecer a Deus e demonstrar toda a sua glória à quem ouvisse. Por isso, o disco é uma experiência espiritual, mas não necessariamente religiosa. Faixas como Psalm (Salmos) e Pursuance (Prosseguir), não deixam negar. Trata-se de um testemunho de fé e um exercício da experiência sensorial que pode ser provocada através da música. Emicida afirma que esse foi um dos principais álbuns que o acompanhou durante a criação de AmarElo (2019).
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A Tábua de Esmeralda, de Jorge Ben
“Estão chegando os alquimistas” anuncia Jorge Ben durante a faixa de abertura do disco, Os Alquimistas Estão Chegando, ao mesmo tempo em que dá um aviso prévio ao ouvinte de que o universo em que este está prestes a adentrar é total e completamente particular ao artista. A Tábua de Esmeralda é um produto perfeito de seu tempo, tendo sido concebido durante os anos de chumbo da ditadura militar brasileira e no auge do movimento hippie no país. No disco, Jorge exalta lendas e mistérios dos mais antigos e utópicos, como a própria Tábua de Esmeralda que nomeia a obra e o “deus” Hermes Trimegisto, mas também deixa qualquer fã de música popular brasileira boquiaberto com o fulgor de seu swing percussionista. Faixas como Eu Vou Torcer e Errare Humanum Est deixam nítida a influência good-vibes, “Faça amor, não faça guerra” do álbum. Mas, paralelamente, Jorge Ben entrega algumas de suas canções mais clássicas nesta obra, como Magnólia e Menina Mulher da Pele Preta. Este LP também se encontra na lista da revista Rolling Stone dos 100 maiores discos brasileiros de todos os tempos.
Os Tincoãs, de Os Tincoãs
Diretamente de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, Heraldo, Dadinho e Mateus Aleluia decidiram tomar propriedade sobre as narrativas que envolvem a cultura afro-diaspórica e suas relações com o Brasil, lançando, em 1973, o álbum Os Tincoãs. Pouco mais de uma década após surgir como uma banda de bolero, o grupo de nome homônimo impressionou o mercado da música e a sociedade, àquela época, pela peculiaridade com que tratava sobre os orixás do candomblé, além da maneira fora do usual com a qual utilizavam os instrumentos de percussão e suas vozes nos arranjos das canções. Tratava-se do resultado de um profundo estudo sobre os cânticos de candomblé, que parece ter ganhado as bênçãos da cultura dos terreiros. A banda baiana inovou ao trazer uma perspectiva nova sobre as experiências de negritude no Brasil e encantou pelo modo doce e sereno como o fez. É deste álbum, por exemplo, o clássico Deixa a Gira Girar.
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Texto por: Ygor Damasceno.